Igualdade de gênero, cinema independente, filmes brasileiros: Berlinale 2020 sob nova direção:
- Humberto Moureira
- 22 de fev. de 2020
- 2 min de leitura

Entre chuva e frio, a Berlinale recebe seus visitantes. As temperaturas aumentam, mas
não tanto. Ainda é inverno. O que parece combinar com cinema. Pelo menos, em solo
alemão. Geralmente o evento acontece antes da premiação do Oscar, mas este
fevereiro é diferente. Na 70, edição o sol não tem aparecido muito. O mesmo se pode
dizer quanto às celebridades. Como todo festival, o Berlinale também precisa de
estrelas para atrair o olhar dos curiosos, do público e no final das contas não conheço
ninguém que não goste (ao menos um pouco) de glamour. Sob a batuta de Carlo
Chatrian, antigo diretor artístico do Festival de Locarno, o festival parece seguir novos
ventos.
Em 2020 foi a criada a mostra Encounters, que seleciona filmes que contenham mais
de 60 minutos, e buscam um olhar experimental, narrativa diferenciada e ideias
únicas para uma audiência não segmentada. A mostra contém 15 filmes das mais
diversas nacionalidades. A Gala Especial (antiga mostra fora de competição) traz
alguns nomes como a diretora Agnieszka Holland, com Charlatan; Minamata, de
Andrew Levitas, com Johnny Deep no elenco; Pinocchio, do italiano Mateo Garrone,
com Roberto Benigni desta vez no papel de Gepeto e Hillary, de Nanette Burstein,
sobre a democrata Hillary Clinton. O filme de abertura ficou a cabo de My Sallinger
Year, de Philippe Falardeau, estrelado por Sigourney Weaver. Quem recebe o urso
como homenageada é a atriz Helen Mirren, que deu vida a Rainha Elizabeth em
Queen (2006), de Stephen Frears, o que rendeu a interprete um Oscar de melhor
atriz.
A paridade de gênero que está cada vez mais presente nos festivais é pauta certa para
o Berlinale. Dezoito filmes estão na corrida Peo Urso de Ouro. Deste número, 30% são
de mulheres. Já é um número elevado se comparado aos outros festivais. Nas mostras
paralelas esse número é ainda maior.
As posições de decisão no trabalho do Berlinale também tem mulheres nos cargos de
chefia. O júri internacional tem 4 homens e 3 mulheres: o ator Jeremy Irons
(presidente do júri), a atriz Bérénice Bejo, a produtora alemã Bettina Brokemper, a
diretora palestina Annemarie Jacir, o filmmaker e roteirista Kenneth Lonergan, o
ator italiano Luca Marinelli e o diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho.
Em meio aos quase 347 filmes desta edição, sob a regência de Chatrian, um
conhecedor de cinema (antes de ser diretor de festivais ele atuava como jornalista e
crítico de cinema), o festival pretende apresentar um cinema mais autoral e
independente não só para um público internacional ou que trabalha no mercado
cinematográfico, mas para os locais, para quem mora na capital alemã.
Por uma estratégia de mercado, alguns estúdios guardam seus filmes até Cannes
e no mais tardar até Veneza, que nos últimos anos tem sido uma janela para o Oscar. O
festival italiano acontece em agosto, o que permite que o possível candidato à
academia fique fresco na memória da indústria e do público. Em tempos de Corona
Vírus é preciso esperar e ver para onde os ventos nos levam.
Pela primeira vez, o Brasil tem 19 filmes selecionados para as diversas mostras no
evento. Em competição será apresentado Todos os Mortos, de Marco Dutra e
Caetano Gotado, com Mawusi Tulani, Clarissa Kiste e Carolina Bianchi.Na mostra Panorama ainda podem ser vistos Nardjes A., de Karim Ainouz e Vento Seco, Daniel
Nolasco.
O festival acontece de 20 de fevereiro até 1 de março de 2020 na capital alemã.


