Filme nigeriano "All the Colours of the world are Between White and Black" emociona Berlim
- Humberto Moureira
- 22 de fev. de 2023
- 2 min de leitura

Pessoas LGBTQIA+ são espancadas, jovens ladrões são linchados em público. Em meio á justiça feita com as próprias mãos, All the Colors of the world are Between White and Black, do diretor nigeriano Babatunde Apalowo, envolve seus personagens capital Lagos, onde o protagonista Bambino (tope Tedela), um jovem trabalhador, tímido e de pureza quase infantil mergulha um turbilhão de sentimentos, onde a imagem comunica profundamente mais do do que as palavras ditas pelas personagens.
O diretor, roteirista e produtor Babatunde Apalowo leva o título de seu filme ao pé da letra. Usando uma composição de cores discreta, ele conta uma história contida e terna de dois homens que se tornam íntimos em uma sociedade na qual as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são consideradas tabu e passíveis de processo. Sua dança em torno um do outro se desenrola lentamente, em imagens concentradas e cheias de calma. Um filme sensual e politicamente importante da Nigéria sobre como encontrar o amor onde menos se espera.
O diretor aproveita os planos abertos para mostrar a cidade, onde esses persongens estão imersos, uma sociedade a qual os proibiu de viver seus prazeres. O filme trabalha no campo bastante comum em países emergentes e abrangente sobre "os que os vizinhos irão pensar?" Por muitas vezes essa é a preocupação do protagonista, onde perseguidos não são culpados.
O magia dos personagens está em como possivelmente não atingirão seus sonhos, mas trazem pedacinhos desses sonhos para realidade, mesmo que de maneira controlada. Os contatos físicos esperados no filme, não acontecem na tela. Não é preciso ver o jovem protagonista dormindo ao lado de outro homem para entender sua homossexualidade que é oprimida não só no lugar onde vive, mas na percepção do próprio jovem que não encontra ali lugar de existência. A camera captura o desejo de um homem pelo outro e descola o espetactor da poltrona na torcida pelos dois.
Em determinado momento da narrativa, Bambino busca no Google " Como saber se você é...", mas na tela o vemos apagar a sentença. Muito fica subentendido e o diretor carrega nas tintas na trilha sonora que poderia ser quase cafona, mas que funciona associada à fragilidade e inocência do jovem herói e que dá força as engrenagens da narrativa .
O trabalho foi apresentado na mostra paralela Panorama e recebido com aplausos calorosos da platéia no inverno alemão. Devido ao olhar sensível e com crítica certeira ainda que contida sobre sociedade e os direitos LGBTQIA+ na Nigéria, em meio ao caos, mas de maneira serena Apalowo nos faz seguir seu Bambino até o último segundo da projeção.


